Práticas colonizadoras em personagens femininos e nortistas na teledramaturgia brasileira

Abstract

A característica colonial que incide sobre a construção das personagens que representam a mulher nortista na teledramaturgia brasileira faz com que sejam associados estereótipos que distorcem a identidade delas, objetificando-as, quase sempre, como mulher selvagem e desprovida de identidade. Essa representação pela qual elas são identificadas no gênero teledramatúrgico evidencia, muitas vezes, o preconceito e o racismo, o que tem o potencial de nacionalizar uma imagem da mulher nortista com a qual elas não se identificam. Dessa forma, objetiva-se neste estudo analisar como as minisséries Amazônia, escrita por Glória Perez, e Dois Irmãos, cujo roteiro é de Maria Camargo, ambas exibidas na Rede Globo, cumprem esse propósito de construir a imagem da mulher nortista sob a ótica colonial, relacionando estas produções às análises bibliográficas e documentais de autores que discorrem acerca da relação entre narrativas sobre mulheres da região norte e os estereótipos a elas relacionados, tais como Dourado (2017) e Negrão (2003).Para tanto, esta dissertação analisa desde o momento histórico em que começa a surgir esse olhar colonizador para as mulheres do Norte; perpassa pelas diferenças entre a construção das personagens femininas nas obras literárias e nas tramas televisivas; e chega à discussão entre essas composições e as possibilidades de readaptação por meio das críticas dos espectadores das transmídias. Com isso, se há possibilidade de questionar as caracterizações na construção das personagens femininas nortistas, a transmídia permitiu na mesma proporção a difusão de um debate público. Ao longo da narrativa, pretendemos identificar os silenciamentos de aspectos das mulheres nortistas nessas tramas, levantando projeções imaginárias do colonizador sobre a colonizada. Os resultados demonstram que as personagens citadas tem uma identidade, uma marca forte em todas as cenas ou falas que aparecem, mas também percebe-se o silenciamento por parte das mesmas, na maioria das vezes, sendo oprimidas por um colonizador seja ele de outro sexo, um grupo da sociedade em que vive ou o meio predominante na narrativa.