Educação do campo em tempos de pandemia do Covid 19: fazeres possíveis em Ji-Paraná

Abstract

A Educação do Campo surge por meio das manifestações e árduas lutas dos movimentos sociais do campo, em especial, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, no final da década de 1990, tendo como mote, a insatisfação frente a desqualificação da educação rural oferecida para os sujeitos do campo. Tal fato resultou no que conhecemos como movimento “Por Uma Educação Básica do Campo”, que posteriormente se transformou em Educação do Campo, saindo da esfera dos movimentos sociais para se tornar política pública. Esta modalidade específica de educação não visa apenas mudanças nos currículos escolares das escolas do campo, mas compreende o processo formativo que perpassa escolas e comunidades camponesas. Incide assim, em projeto de campo e de sociedade, adentrando na cultura e na identidade dos povos do campo e para isso, a manutenção das pessoas e das escolas no campo é fundamental. Deste ponto de vista a Educação do Campo é um projeto de educação que contraria os interesses do agronegócio e não é, nem poderia ser, compatível com ele. Se o agronegócio avança, as escolas do campo desaparecem, porque suas gentes, seus sujeitos são expulsos de lá. Esta pesquisa trata do Educampo no município de Ji-Paraná/RO, que é um projeto de Educação do Campo em que é adotado a Pedagogia da Alternância em escolas da rede pública municipal. Nesse caso específico nossa pesquisa foi desenvolvida na Escola Bárbara Heliodora, situada a cerca de 50 km da sede do município. Este trabalho tem como objetivo investigar o desenvolvimento da educação do campo em regime de alternância no período de pandemia do novo Coronavírus, visto que as atividades presencias foram suspensas em todas as escolas públicas do Município, desde março de 2020. A metodologia utilizada para obtenção dos resultados é de abordagem qualitativa, com utilização de questionários estruturados aplicados para gestores, professores, pais/mães de alunos e alunas. Os autores que subsidiaram o aporte teórico foram: Caldart (2012; 2018); Valadão (2017; 2018); Campos e Oliveira (2012); Ribeiro (2012); Pereira (2012); Valadão e Backes (2017); Conte; Pereira; Santos (2018), Conte; Nóbrega; Santos (2021); Minayo (2002); Menezes (2013); Bezerra Neto (2010); Gimonet (2007). Os resultados indicam que o Educampo tem trazido maior significância na formação dos estudantes e para toda a comunidade em que a escola do campo está inserida. Os sujeitos da pesquisa falam dos avanços obtidos com relação ao desenvolvimento do processo pedagógico envolvendo diretamente as famílias dos alunos e, com isso maiores aprendizados a todos, inclusive, professores e alunos. Com o período de pandemia houve perdas grandes no desenvolvimento do processo formativo que antes utilizavase dos instrumentos da Pedagogia da Alternância, em especial no ano de 2020. Em 2021, porém, alguns desses instrumentos foram readaptados para o ensino remoto e estão sendo colocados em prática. Famílias, professores e alunos estão fazendo grandes esforços para levar adiante o processo educacional, para não terem perdas ainda maiores, que seria, não ter nada de educação escolar, mas é perceptível a sobrecarga sobre os professores, o esforço pedagógico e financeiro das famílias para ajudar em atividades e garantir aparelhos celulares para seus filhos e, os alunos, reclamam da falta de interação com seus pares, falta de fazerem atividades extraescolares e o quanto aprendiam com esse processo.