Slam das minas e as subjetividades negras na poesia contemporânea das manas, monas e monstras

Abstract

Este trabalho tem como objetivo estudar a produção poética das mulheres negras da cena do slam. O contexto no qual tais manifestações poéticas estão inseridas é o da marginalidade, termo que vem sofrendo mudanças nos últimos anos e agregando novos valores e significados. Diante desse contexto de ressignificação, interessa compreender como o movimento poetry slam, em sua relação com a poesia marginal-periférica das manas, monas e monstras, pode ser lido na chave do conceito de despersonalização/dessubjetivação do sujeito lírico e, simultaneamente, apresenta-se como canal para a construção das subjetividades contemporâneas de mulheres negras. Para tanto, a pesquisa se vale da antologia Querem nos calar: poemas para serem lidos em voz alta, de organização de Mel Duarte. Da antologia, foram selecionados sete poemas, todos produzidos por mulheres negras, cujo foco é o fazer poético dessas mesmas poetas em seus contextos de vivência. Partindo da hipótese de que as expressões das subjetividades femininas negras na poesia brasileira contemporânea geram uma crise na compreensão do próprio conceito de poesia, sobretudo por seu caráter antimimético, consideramos o slam como uma produção que exige do leitor/crítico um deslocamento de seu espaço habitual de estudo para uma aproximação dessas práticas estéticas. Como forma de alcançar tais objetivos, na primeira parte da pesquisa, baseamo-nos em estudos teóricos da poesia, a fim de entender como se dá o processo de transformação na concepção da subjetividade na poesia, sobretudo a discussão travada na tensão entre a modernidade e a contemporaneidade; no segundo momento, focamos em autores que ajudam a pensar a complexidade do poetry slam, desde sua relação com o conceito de performance, recepção, leitura, até a consideração das diferenças específicas da produção de mulheres negras e o resgate da oralitura, da ancestralidade negra e a necessidade de repensar o corpo negro-feminino como forma de reexistência na poesia contemporânea.