Processo de transição sociotécnica em um entreposto avícola em Cacoal/RO

Abstract

O sistema sociotécnico do polo agroalimentar de produção de ovos no município de Cacoal (RO), constitui-se por um grupo de agricultores familiares que trabalham de forma informal, manual e individual, possuem rotinas próprias e realizam vendas intermunicipais. Exigências legais exerceram pressão para regularização do empreendimento, inserção tecnológica, boas práticas de fabricação e criação de marca. Para tanto, essa pesquisa tem como objetivo analisar os processos multiníveis da transição sociotécnica no entreposto avícola, a partir da intervenção do Governo do Estado de Rondônia. O referencial teórico contempla a Teoria dos Sistemas Sociotécnicos, Transição Sociotécnica, Perspectiva Multinível, compreendendo: nicho, regime e paisagem, como forma de compreender os processos de mudanças de um sistema para outro e as inter-relações dos aspectos sociais e técnicos da estrutura organizacional sob o enfoque de uma análise multidimensional. A metodologia adotada contemplou a abordagem qualitativa, com estratégia de estudo de caso, utilizando de múltiplas fontes de evidências para analisar os fenômenos. A fase exploratória buscou conhecer a trajetória, meios de produção e comercialização executados pelos avicultores; histórico da constituição do entreposto; compreender as estratégias governamentais de implementação das políticas públicas; utilizando como técnicas de coleta de dados, entrevistas semiestruturadas, observação e pesquisa documental. Os resultados do mapeamento sociotécnico foi subdividido em quatro âmbitos: técnico, visão, organização e social. No âmbito técnico, encontra-se a necessidade de adequações estruturais; No âmbito visão, uma perspectiva de como os avicultores veem as transformações em curso: possuem restrições sobre o novo cenário, uma vez que acreditam que o produtor só tem que produzir, não deve se envolver em outras áreas de um empreendimento; a resistência às mudanças estabelecidas em lei; o receio de não conseguir executar as mudanças, devido ao desconhecimento das novas práticas requeridas. No âmbito da organização: compete a sistematização do trabalho em grupo (harmonia/conflito), saber lidar com os diferentes perfis, opiniões e decisões; a desigualdade nas votações, impera sobre a não verificação das diferentes realidades de cada produtor; o financiamento gerou uma preocupação em consideração ao longo prazo para o pagamento e o compromisso com o grupo. No âmbito social: verificou-se que a participação dos avicultores junto ao entreposto proporcionou um envolvimento social antes não existente; a existência de uma liderança externa exercida por um membro que não é avicultor, mas possui interesse em ajudá-los; atravessador dos ovos, visto por enquanto como um mal necessário. O nível nicho apresentou como um campo em potencial para o surgimento de inovações radicais, proporcionadas pelo desafio da mudança, traduzidas pela busca de conhecimento, novas aprendizagens, articulação entre os membros, inserção tecnológica e as redes de cooperação dispostas a ajudar. O nível regime é visto como fragilizado, devido ao processo histórico em que os avicultores foram acostumados a trabalhar sem mecanismos regulatórios e de convivência em grupo, o que dificulta a quebra de paradigmas. O nível paisagem foi a mola propulsora do estímulo a transformação da atividade de produção de ovos, tanto pela criação da lei sobre os estabelecimentos de origem animal como pelo incentivo governamental. Até o final da pesquisa o entreposto ainda não se encontrava em funcionamento, portanto as iniciativas de co-evolução do segmento ainda estão embrionárias perto do que ainda tem capacidade para se desenvolver, porém isso irá depender da capacidade de gestão dos nichos administrados pelos avicultores e o desenvolvimento das transformações em curso.