Eu e o outro na sala de aula: o olhar de professores do ensino médio sobre a relação professor-aluno a partir da ética da alteridade de Emmanuel Lévinas

Abstract

Educar é uma atividade que pressupõe relações, estas podendo ser compreendidas tanto por seu aspecto profissional, quanto por seu contexto humano, donde se envolvem a subjetividade e a alteridade dos sujeitos nelas envolvidos. Entre as diversas concepções acerca da relação professor-aluno, buscamos na Ética da Alteridade de Emmanuel Lévinas uma possibilidade de pensa-la. Esta filosofia apresenta a relação com o Outro como condição de existência. Este último, dotado de uma alteridade infinita, pela qual o eu é totalmente responsável. Isto posto, a questão problematizadora que norteou este estudo foi: Como a Ética da Alteridade pode contribuir na relação professor-aluno a partir da visão de professores de uma escola de Ensino Médio? Pertinente à esta indagação, o objetivo geral consistiu em analisar como a Ética da Alteridade pode contribuir na relação professor-aluno a partir da visão de professores de uma escola de Ensino Médio. No tocante ao aspecto metodológico, esta é uma pesquisa do tipo descritiva, de abordagem qualitativa, realizada no período de março a maio de 2020. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas com cinco professores atuantes no Ensino Médio de uma escola estadual de ensino fundamental e médio, situada no Município de Porto Velho – RO. Estes foram organizados em cinco Categorias de Análise: I - Relação professor-aluno; II - Papéis do professor e do aluno; III - Relevância de vínculos entre professor e aluno; IV - Responsabilidade do professor junto aos alunos; e V - Desafios para a relação professoraluno. Acerca dos resultados obtidos, destaca-se: No tocante à forma como os professores concebem a sua relação com seus alunos, constatou-se certo distanciamento de concepções autoritárias e hierárquicas, a descentralização do papel do professor e a ênfase numa relação pautada em compromisso, respeito mútuo, diálogo, abertura e afetividade. Quanto às situações em que os professores, em relação com seus alunos, já vivenciam a Ética da Alteridade, percebe-se que esta é presente no reconhecimento da importância de vínculos afetivos, do diálogo e abertura na relação por parte dos professores. Sobre a forma que a filosofia levinasiana pode ser materializada na relação professor-aluno, esta pode aprofundar aspectos como diálogo, abertura e responsabilidade do professor sobre seus alunos a partir da Ética da Alteridade. No que concerne aos desafios para os professores desenvolverem uma relação professor-aluno pautada na ética da alteridade, evidenciou-se a tensão entre os caráteres profissional e o humano da relação, a grande quantidade de turmas e carga horária assumidos pelos professores, provocando relações fragilizadas e as representações feitas pelos próprios professores acerca de seus alunos, que os distanciam de uma relação mais aberta à alteridade. Por fim, entende-se, a partir destes resultados, que a Ética da Alteridade atribuída à educação pode contribuir no aprofundamento do caráter humano intersubjetivo presente na relação professor-aluno. Abrindo, assim, espaço para novas práticas que possibilitem contemplar a alteridade dos alunos e, ao professor, o lidar com esta realidade infinita e misteriosa de seus alunos.