Relações de poder: análise da percepção dos técnicos-administrativos em uma universidade pública do norte do Brasil

Abstract

O poder é uma estrutura em rede e manifesta-se tanto nas relações verticais quanto nas relações horizontais das relações de trabalho, reverberando na vida pessoal e profissional dos atores envolvidos, bem como ocasionando impactos na organização a qual estão inseridos. No setor público, as disputas de poder são inerentes, pois a interação administrativo-político pode vir a preceder conflitos de interesse entre servidores e/ ou grupos. As relações de poder, então, surgem das assimetrias das interações de trabalho, a nível de competência legal ou não, da participação e da paridade em tomadas de decisões, status quo, sanções, privilégios e outros. Os instrumentos de controle para a manutenção e preservação do poder nas organizações públicas configuram-se em legislações, regulamentos, códigos, procedimentos internos inerentes ao serviço público e estrutura organizacional burocrática. Portanto, esta dissertação tem como objetivo a análise, a partir da percepção dos técnicos-administrativos da Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR), de como ocorrem as relações de poder entre técnicos e docentes, como se estabelecem e como se manifestam, e quais são os impactos organizacionais decorrentes dessas relações. Caracteriza-se como um estudo exploratório, de campo, qualitativa, com entrevistas semiestruturadas com os técnicos-administrativos que atuam ou atuaram como conselheiros, e lotados em unidades gestoras e administrativas da sede e Campus de Porto Velho, bem como as unidades Campi do interior do Estado de Rondônia. A análise dos dados se deu, primeiramente, por meio de pesquisa documental nos regimentos e estatuto da universidade e dos conselhos, núcleos e departamentos vinculados, seguida pelo método da entrevista semiestruturada. Foram entrevistados nove conselheiros com mandato vigente, três servidores que já exerceram atividade nos conselhos (superiores, núcleos e departamentos), e oito técnicos lotados em unidades gestoras e administrativas. Desse total de vinte entrevistados, três deles no interior do Estado e de diferentes Campi, onze no Campus de Porto Velho e seis lotados no prédio da reitoria (sede). Constatou-se que as relações de poder ocorrem nos conselhos, por meio da disparidade representativa e desequilíbrio na participação dos conselheiros e força política assimétrica; por meio da legislação, que impossibilita a equidade de representação nos conselhos, impõe critérios para lotação em cargos de chefia e eletivos, hierarquiza carreiras e atividades, e institui mecanismos de controle diferenciados de acordo com categorias; e, por fim, por meio da titulação que hierarquiza de conhecimento e especialidade docente e técnica. Os pontos de conflitos se confundem com as relações de poder na universidade. Os impactos ocasionados dessas relações são o adoecimento do servidor e, consequentemente, da organização, e a rotatividade e a evasão de servidores, comprometendo a efetividade das atividades da organização. A hierarquização legitimada pela universidade causa frustrações e desestimula a maior participação política e institucional do técnicoadministrativo na UNIR. Após análise, esta pesquisa recomendou Universidade pesquisada a criação de uma pró-reitoria de recursos humanos e reestruturação de suas unidades internas, com a integração da Comissão de Ética visando maior foco no atendimento e acompanhamento ao servidor público; a ampliação da redução da carga horária, com a finalidade de divulgar possibilidades de trabalho e promover a qualificação dos servidores; e, por fim, a reestruturação dos colegiados, estimulando maior participação dos técnicos nas atividades políticas da universidade pesquisada.