O alegórico e a construção do discurso poético no romance d'a pedra do reino, de Ariano Suassuna

Abstract

O objetivo deste trabalho é analisar o discurso poético-alegórico em alguns capítulos do Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do sangue do vai-e-volta (1971), de Ariano Suassuna (1927-2014). A análise concentrou-se nos folhetos: I, II, III, IV, XI, XII, XLII, L e LIII, que apresentam uma perspectiva alegórica da narrativa com seus elementos, bem como das manifestações culturais e ideológicas. O romance exibe uma perspectiva alegóriconarrativa que se configura através de uma linguagem intertextual construída com fontes externas ou culturais. Nesse sentido, Ariano Suassuna consegue transformar a influência que recebe de outras fontes em conveniência com destaque à cultura local. A sobreposição de alegorias históricas interpretadas no espaço local presente contribui para constituir um discurso poético com uma linguagem carregada de significados, que de certa forma traduz aspectos da cultura brasileira. Assim, nossa principal hipótese é a de que o discurso poético desta produção seja arquitetado por meio de uma singular sobreposição de alegorias. Os aportes teóricos de Walter Benjamin (1984), José Luís Jobim (2013) e de Antônio Cândido (2000), bem como a própria produção cultural de Ariano Suassuna (1971/2017), entre outros, possibilitam demonstrar a relação existente entre o universo da ficção e outras expressões históricas e artísticas. Na esteia de tais teorias, percebe-se que a narrativa propicia uma leitura alegórica e cultural do Brasil, para defender uma cultura não apenas nacional, mas de muitas tradições. Nesse compasso, há um pendor crítico representado na obra sobre a troca ou inspiração do “primitivismo” cultural brasileiro e a “modernidade” cultural estrangeira. É por conta disso que o narrador acentua de forma crítica, irônica e inventiva a necessidade de uma cultura brasileira autêntica, nascida das produções populares. Portanto, a partir da sobreposição alegórica é construído um discurso intertextual que serve como suporte de representações ideológicas, políticas, sociais e religiosas, que irá mediar o homem e sua concepção de mundo.