Metodologias para o planejamento e gestão dos recursos hídricos: estudo de caso da microbacia do igarapé Nazaré (Rondônia)

Abstract

As ferramentas matemáticas e computacionais têm se tornado importantes aliadas na identificação e compreensão dos problemas envolvendo a qualidade e disponibilidade dos recursos hídricos, além de auxiliar na tomada de decisões voltadas ao planejamento e gestão das águas. O geoprocessamento, os métodos de regionalização e os modelos hidrológicos são exemplos destas técnicas, as quais tem auxiliado respectivamente no mapeamento e avaliação do uso e ocupação das Áreas de Preservação Permanente – APPs, na disponibilização de dados hidrológicos em regiões com carência destas informações e na simulação da qualidade da água ao longo do tempo e espaço. Tendo em vista as pressões antrópicas e a limitação de informações hidrológicas e de qualidade na microbacia do igarapé Nazaré, localizada no leste do estado de Rondônia, o presente estudo teve como objetivo a utilização destas técnicas para caracterizar e avaliar a cobertura vegetal das APPs, estimar a disponibilidade hídrica e simular cenários da qualidade da água na microbacia. Para a caracterização e avaliação da cobertura vegetal nas APPs foi aplicada a técnica de Índice de Vegetação da Diferença Normalizada (NDVI), tendo os valores encontrados variado de -0,152 a 0,535 e a vegetação do tipo rala se mostrada como a cobertura predominante nas APPs. O programa SisCoRV foi utilizado para a obtenção das equações de estimativa das vazões Qmax, Qmld, Q7,10 e Q95 da microbacia a partir do método tradicional de regionalização, sendo estas vazões estimadas respectivamente em 22,79 m3s-1, 2,31 m 3s-1, 0,03 m3s-1e 0,08 m3s-1. O modelo QUAL-UFMG foi utilizado para a simulação das variáveis de qualidade da água ao longo de um trecho de 28,5 km de extensão do igarapé, sendo o oxigênio dissolvido (OD), amônia, nitrito, nitrato e fósforo total as variáveis simuladas. A calibração do modelo foi feita pelo método de comparação entre os dados observados em campo (medidos) e estimados pelo modelo, tendo o mesmo apresentado bons índices estatísticos de desempenho e aderência para as variáveis OD, amônia e fósforo total, tendo no cenário atual OD do igarapé variado de 2,34 a 6,73 mg.L-1, estando 54% da extensão do trecho simulado abaixo do padrão mínimo estabelecido para os rios de classe 2 (5 mg.L-1), enquanto que as concentrações de amônia e fósforo total se mostraram respectivamente superiores a 3,7 mg.L-1e 0,1 mg.L-1em 23,2% e 88,1% do trecho simulado. Nos cenários em que há o incremento das vazões de lançamento de efluentes e captações, não houve alterações significativa em relação as variáveis de qualidade da água, no entanto, levando em consideração a Q95 como vazão de referência, a microbacia pode apresentar um cenário de escassez quantitativa no período de estiagem quando houver um aumento de 20% das captações superficiais, já que trechos do igarapé podem não apresentar escoamento superficial. As ferramentas empregadas proporcionaram informações substanciais para a implementação de ações voltadas a preservação do igarapé, como a restauração da vegetação em pontos degradados das APPs, a representação do atual estado da qualidade de suas águas e o planejamento de seus usos a partir do conhecimento de sua disponibilidade.