Erotismo versus interdição e transgressão: análise semiótica dos discursos verbal e não verbal no conto “O baralho erótico” de Mia Couto

Abstract

No presente TCC – Trabalho de Conclusão de Curso – em forma de Artigo, busca-se apresentar uma minuciosa análise discursiva de perspectiva semiótica do conto “O baralho erótico”, de Mia Couto, cuja a interpretação destaca o papel da voz narrativa no conjunto dos fatos narrados a respeito das personagens protagonistas: Fula Fulano e Dona Nadinha. A temática núcleo desse estudo incide na conjectura das imagens eróticas (mulheres nuas no baralho) e (mulheres de corpos perfeitos recortadas das revistas), nas quais interpretamos os efeitos discursivos tanto verbal quanto não verbal que se efetivam no comportamento do próprio casal. No desenvolvimento dessa pesquisa, cuja modalidade de interpretação remete à análise semiótica, uma vez que a metodologia aplicada ao texto (conto) advém de estudos como: Semiótica do discurso (2008), de Jacques Fontanille e O que é semiótica (2012), de Lúcia Santaella que corroboram no processo da análise do discurso. O livro Análise da narrativa (2007), de Yves Reuter, destaca a importância dos elementos essenciais de análise da narrativa, a exemplo, as vozes narrativas/narradores, personagens, tempo e espaço. No que se refere à temática do erotismo que infere na sensualidade e sedução, corroboram nessa leitura os pensamentos de O erotismo (2017), Georges Bataille, Da sedução (1992), de Jean Baudrillard e A dupla chama (1994), de Octavio Paz, cujos estudos refletem o erotismo na sua pluralidade de sentidos. A respeito da violência tanto física como simbólica destacamos A dominação masculina (2019), de Pierre Bourdieu, no qual o estudioso ressalta os efeitos negativos no feminino da violência física e psicológica advinda do masculino. Outras referências com menos ênfase (destaque analítico) são apontadas nessa pesquisa pelas suas afinidades com o tema estudado. Dessa análise proposta, é possível ponderar que o conto objeto de análise, apresenta a dissimetria entre o masculino e o feminino. Essa inferência assimétrica se mostra muito comum na ficção de Mia Couto. Assim, no conjunto analítico pode-se pressupor, de forma categórica, que o referido texto (ficção) reflete e, por sua vez, pluraliza questões sociais, tais como: as consequências da violência de gênero na sociedade moçambicana que, por efeito, se efetiva na culpabilidade e ausência de ação por parte das figuras femininas. Acresce, ainda, os efeitos negativos na autoestima feminina por meio do discurso verbal e não verbal, nos quais a dominação masculina dificulta a sociabilização da mulher, uma vez que Nadinha é apresentada no contexto de um apagamento social. Nesse sentido, mediante à proposta de leitura, pode-se que o erotismo se mostra como estratégia de duplo engano, considerando que os leitores (as) são induzidos (as) a imaginarem um final trágico quando, efetivamente, ocorre uma aparente redenção das personagens mediante os efeitos da fruição erótica.