Representação e impacto da fome na obra "A fome" de Rodolfo Teófilo

Abstract

No presente trabalho analisamos os aspectos do Naturalismo presente no romance A Fome, de Rodolfo Teófilo. As análises se deram a partir de estudos e análises literárias do contexto histórico, social e econômico do nordeste brasileiro e do movimento literário Naturalista. O movimento literário Realismo-Naturalismo iniciou na França no final do século XIX como um movimento contrário ao Romantismo e teve como precursor o escritor francês Émile Zola com a obra Romance Experimental, em 1880. O Naturalismo prolongou e exagerou o Realismo, tem como objetivo representar o comportamento humano no contexto social e econômico, relatando os problemas do cotidiano das classes menos favorecidas, Teófilo faz do romance uma tese científica. No Brasil o Realismo-Naturalismo chegou em 1881, com o romance Realista, Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis, e O Mulato de Aluísio de Azevedo, Naturalista, inspirados pelos ideais franceses. O romance A Fome é considerado o marco inicial da literatura regionalista e do movimento literário naturalista do Nordeste brasileiro. Foi publicado em 1890 e narra história de uma família de retirantes que foge da seca nordestina. O romance descreve as mazelas sofridas pelo povo nordestino em decorrência da seca, baseada em uma das piores secas já registradas pela história entre os anos de 1877 a 1879, responsáveis por dizimar cerca de 4% da população cearense. O escritor narra as peripécias da vida sertaneja, de um povo devorado por aquela que foi considerada a pior seca em toda história do Ceará. Com sua obra, Teófilo faz severas denúncias ao descaso com a população por parte dos governantes, denuncia a corrupção do funcionalismo público e da igreja. Montenegro diz: “Pela primeira vez um romance se transmuta em instrumento de libertação de um povo” (Montenegro, 1953, p. 22). A obra descreve cenas fortes de horrores e morte, o primeiro capítulo é assombroso, narra a fuga dos retirantes rumo à capital, Fortaleza, capital da província. As descrições são cheias de expressões médicas, que descrevem o homem animalizado, a terra seca, árida e sem vida. Lira Neto na introdução de "A Fome" diz que: "Rodolfo Teófilo não usava panos mornos ou luvas de pelica".