Memória e identidade cultural: por uma significação do sujeito na obra Murmúrio de um amazônida (1992), De Raimundo Neves de Almeida

Abstract

O presente trabalho teve como objetivo principal analisar as representações da memória e identidade cultural a partir das narrativas dos contos A velha samaumeira e Um encontro ecológico na floresta amazônica, presentes na obra Murmúrio de um amazônida, do escritor Raimundo Neves de Almeida (1992). O problema da pesquisa consistiu em investigar se a identidade do sujeito amazônida é múltipla e fragmentada, resultante das diversas relações mantidas com outras culturas. A hipótese da pesquisa partiu do pressuposto de que, mesmo com todas as misturas culturais existentes na região amazônica, o indivíduo habitante desse espaço ainda conserva alguns traços que lhe são peculiares. Os objetivos específicos foram: a) estudar a representação das memórias e sua importância para o reconhecimento identitário cultural do sujeito; b) verificar as especificidades da cultura amazônica presentes nas narrativas selecionadas da obra em questão; c) investigar como ocorre a transformação da identidade cultural do sujeito, a partir dos estudos pós-coloniais. Nas análises dos textos, foram aproximados alguns conceitos referentes a outras áreas de conhecimento, como a história e a geografia, em diálogo com a literatura, uma vez que o estudo se centra em reflexões acerca de memória, cultura e identidade materializadas no enredo da obra a partir das relações de fronteiras vivenciadas entre as personagens no espaço amazônico; ademais, foram contextualizadas migrações ocorridas na época descrita nas narrativas analisadas, considerando-se o processo de dominação e apropriação da Amazônia, à luz dos estudos pós-coloniais. A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica, de cunho qualitativo. Os principais autores utilizados para construção do embasamento teórico foram: para as reflexões sobre memória: Maurice Halbwachs (2006), Michael Pollak (1989, 1992), Joël Candau (2021) e Paul Ricoeur (2007); para os estudos culturais e amazônicos: Homi Bhabha (1998), Roque de Barros Laraia (1986), Stuart Hall (2020), João de Jesus Paes Loureiro (2015) e Ana Pizarro (2012); para a fundamentação teórica dos estudos pós-coloniais: Thomas Bonnici (2000), Albert Memmi (2021), Frantz Fanon (1968), Neide Gondim (2009), entre outros. Através do estudo e análise dos contos, verificou-se que a memória tem um papel fundamental na constituição dos traços culturais dos sujeitos amazônidas. Constatou-se, ainda, por meio do discurso das personagens, que a resistência é uma das marcas identitárias, face à ocupação e ao desmantelamento do território amazônico, dando origem a identidades múltiplas e fronteiriças. Espera-se que esta pesquisa possa contribuir para ampliar os estudos relacionados às temáticas da literatura produzida na/sobre a Amazônia, bem como despertar reflexões a respeito da valorização das questões identitárias e culturais.