Terra encharcada: um diálogo entre criação literária e certas histórias dos seringais da amazônia

Abstract

Neste trabalho, realiza-se um estudo historiográfico-literário do romance Terra Encharcada, ambientado em certa “Amazônia” de expressão regionalista do Norte, publicado pela Sá Cavalcante Editores, em 1958, na cidade de Belém (PA), de Jarbas Gonçalves Passarinho (1920-2016), sob a perspectiva dos aportes teóricos de Antonio Candido (2002); (2000); (1981), e demais autores com o objetivo de levar o leitor(a) à reflexão acerca da verossimilhança interna do romance em estudo com a realidade externa, isto é, reconhecer na obra literária os fatores externos que se fizeram internos. Nesse sentido, percebe-se neste estudo que a obra, embora desenvolva em seu enredo uma instigante e inédita revolta vitoriosa de seringueiros oprimidos no seio da Amazônia paraense contra um coronel de barranco (Antônio Carlos), encontra-se relegada ao esquecimento ou negligenciada pela crítica provavelmente por ter sido escrita por um intelectual militar-político, articulista atuante do Golpe Militar (1964-1985) no Brasil. Por esta razão, nesse período, Terra Encharcada, bem como a arte em geral, foi mutilada pela censura ao apresentar, por exemplo, casos de adultério, mas, sobretudo, homossexuais entre personagens nos seringais. Com efeito, os naturais problemas estéticos presentes no enredo original foram ampliados pelos cortes substanciais da censura. Além desse aspecto, outras categorias são desenvolvidas como a contextualização histórica de Terra Encharcada no período de decadência da borracha amazônica, o entrelaçamento entre o mundo fictício e o real que trazem à tona a visão particular do autor sobre a Amazônia, a seca e a migração nordestina, bem como a atuação do capitalismo e do coronelismo de barranco como elementos de inspiração estética que se valeu o autor para denunciar a condição social do seringueiro escravizado no seringal.