Um corpo negro leva na bagagem a infância e a linguagem: diálogos e tensões na pesquisa-ação com professoras

Abstract

O presente trabalho teve como objetivo produzir pesquisa-ação junto a professoras do ensino fundamental de uma escola básica pública de Porto Velho – Rondônia, que conta com matrículas de crianças haitianas. A fim de preparar a pesquisa-ação, realizou-se a pesquisa documental sobre fluxo de matrículas de estudantes haitianos, histórico da escola entre 2013-2020, o fluxo de matrículas de estudantes haitianos após 2013. Ainda nesta fase, foram realizadas entrevistas com as cinco professoras que aceitaram integrar a equipe de pesquisa. A atitude metódica assumida nesta pesquisa teve base nos conceitos de interculturalidade discutido por Catherine Walsh e Vera Maria Candau e nos debates sobre racismo, africanidades e apontamentos breves sobre currículo com base na discussão de Roberto Noguera, Silvio Almeida e Nilma Lino Gomes, ao lado da discussão sobre a migração haitiana em Porto Velho a partir das pesquisas de Marília Pimentel Cotinguiba e de Geraldo Cotinguiba. Para construir a pesquisa-ação, a abordagem principal foi pautada em Michel Thiollent que se posiciona desde o campo educacional e aporta contribuições para a formação de professores investigativos. Partimos da seguinte problemática: quais seriam os processos políticos e pedagógicos no discurso e no fazer do cotidiano escolar quando se leva em conta a diáspora afrocaribenha e suas marcas na educação para as relações étnico-raciais? Ao longo das rodas de conversa que materializaram a pesquisa-ação, os primeiros resultados demonstraram as dificuldades das professoras em organizar a prática docente em turmas nas quais frequentam haitianos, e que a ausência de domínio da Língua Portuguesa era apontada pelo corpo docente como motivo para por em questão a própria condição destas crianças aprenderem. Tensionados estes aspectos, as marcas dos processos sociais e ideologias que demonstram o racismo estrutural presente no cotidiano das professoras, além da ausência de formação continuada para lidar com estas questões e de material diretamente relacionado com a demanda de trabalho pedagógico decorrente da convivência com haitianos puderam se tornar mais evidentes e passar a serem discutidos. Outro aspecto, produto das reflexões do grupo de pesquisadoras, foi a constatação de, para além dos haitianos, outros imigrantes também na condição de invisibilizados no chão da escola. Os resultados da pesquisa-ação permitiram a sistematização em um documento, algo novo para as participantes, com indicadores a serem oferecidos para a reflexão do corpo docente da escola a fim de contribuir para tratar da convivência com crianças haitianas e demais imigrantes na direção de uma abordagem intercultural. Ainda, a partir do documento, foi produzido um Calendário Intercultural como produto educacional da pesquisa, fim de atender à demanda por material didático anteriormente anunciada.