Neoextrativismo e a indústria da carne como paradigma de desenvolvimento na Amazônia: o caso da região norte do Brasil

Abstract

Este artigo remete ao debate crítico sobre o neoextrativismo e fundamenta a importância da reflexão normativa em torno dos padrões de desenvolvimento, que são muitas vezes decorrentes de fatores condicionados pelas relações de poder que se consolidam como modelo econômico predominante no território. A discussão do neoextrativismo analisa principalmente as atividades de extração mineral e agrícola. Este estudo contribui no sentido de ampliar a concepção do neoextrativismo também para a atividade pecuária na região Norte do Brasil, principalmente após a implementação na década de 1970 de políticas que estimularam o crescimento da indústria pecuária, cuja exploração envolve grandes investimentos de infraestrutura e que geram alta concentração de renda associada à intensos impactos socioambientais. Na região Norte, sua dinâmica socioeconômica padronizou o uso e a apropriação da terra para a exploração de atividades complexas como a pecuária e a produção de grãos. No caso de Rondônia, essa dinâmica resultou em um conjunto de atividades econômicas que são legitimadas ao ponto de justificar uma suposta “vocação” regional do estado para o agronegócio. Como principais resultados destacase que em alguns estados do Norte do Brasil, a indústria da carne integra um processo de reprimarização da economia nacional e internacional que impactou na formulação de políticas concentradoras de recurso, e pouco equitativas na distribuição da renda, com poucos empregos diretos e baixa remuneração entre os anos de 2010 e 2019. Rondônia possui o segundo maior rebanho de bovinos da região Norte, e o terceiro maior PIB agropecuário. Por outro lado, apresenta um panorama de desigualdade social na distribuição de renda, com um Índice de Gini superior a 0,65 dentre os anos de 2010 e 2018.