Uma análise do discurso midiático sobre a migração venezuelana na Amazônia brasileira

Abstract

Este trabalho tem como objetivo analisar os efeitos de sentido dos discursos produzidos por notícias veiculadas sobre a migração venezuelana no período de 2016 a 2021. O corpus deste trabalho é constituído por 12 notícias, publicadas por veículos de comunicação que compõem a grande imprensa e de periódicos do estado de Roraima. Para evidenciar qual a imagem deste migrante venezuelano construída nas notícias que circularam sobre o movimento migratório, nos apoiamos no conceito da formação ideológica, em que Pêcheux (1995) assinala tratar-se do funcionamento das relações de produção para interpelar e assujeitar o outro a partir das representações imaginárias compartilhadas pelo indivíduo empírico ou pela coletividade de uma sociedade e são concebidas por uma conjuntura dada.Por outro lado, o enunciador também é interpeladoe atravessado idelogicamente por outros dizeres. Nessa perspectiva, observamos uma exterioridade constitutiva da língua e as condições de produção que permitiram a materialização dos discursos que envolvem a migração de venezuelanos na Amazônia, por meio de notícias do corpus analisado, bem como as formações discursivas em que os sujeitos estão inscritos. Destarte, os enunciados se constituem em um conjunto de já-ditos que permitem compreender todo o dizer da narrativização. Assim, salienta-se a importância de escrutinar as regularidades discursivas que, conforme assevera Foucault (2008), é um conjunto de enunciados determinados mediante a descontinuidade das relações que estabelecem entre si. Seguindo essa lógica, os discursos são regulares, porém dispersos de forma a manifestar o que o sujeito pensa e conhece. Nessa esteira, a regularidade discursiva apresenta “pistas” para a caracterização da formação discursiva e dos campos do saber. Por outro lado, percebemos que as formações discursivas podem ser constituídas a partir de alguns fenômenos linguísticos e entre eles está a seleção de vocábulos que provocam os efeitos de sentido nos textos jornalísticos. Assim sendo, em um primeiro momento, as observações analíticas apontaram para a construção da formação imaginária do sujeito migrante venezuelano, como alguém trabalhador, mas em busca de ascensão social e da fuga dos problemas socioeconômicos de seu país. Porém, a partir da implantação da Operação Acolhida, o efeito de sentido das narrativizações midiáticas passa a retratar este sujeito como um ser em extrema condição de vulnerabilidade social e econômica, em situação de dependência do governo brasileiro, como um indivíduo indolente, acomodado pela mendicância e condicionado a clandestinidade que o leva a viver à margem da sociedade. Durante a época das ações de acolhimento é perceptível notar a inclusão do migrante como porta-voz dos discursos relatando suas experiências durante o deslocamento, mas com a propagação da COVID-19, o migrante é silenciado causando o efeito de sentido do apagamento. Ademais, há regularidade na narrativização ao retomar, por meio de expressões, o arquivo do discurso jurídico, histórico e às vezes literárias para representar um acontecimento. E por fim, a mídia recorre a elementos como o oficialismo enquanto forma de legitimar a discursivização, objetifica os venezuelanos e acrescenta a interlocução de especialistas como forma de contextualização de alguns fenômenos sociais para interpelar o outro a aderir a sua formação discursiva.