A reconstrução ficcional da favela em becos da memória, de Conceição Evaristo

Abstract

Este trabalho apresenta uma leitura do romance Becos da Memória, de Conceição Evaristo, a partir dos espaços onde se desenvolvem as narrativas. A escolha da obra se deu por meio da inquietação em relação ao espaço desde o qual os personagens narram os fatos. Nesse sentido, o trabalho analisa como são narradas as memórias e as vivências cotidianas dos personagens do romance Becos da memória, considerando como tais relatos promovem a ressignificação do espaço periférico retratado na obra. Os objetivos específicos direcionaram o estudo ao especificar a relevância do espaço narrativo em Becos da Memória; assinala como operam as relações entre a memória e espaço narrativo; ao caracterizar a reconstrução ficcional da favela plasmada na obra, a partir do exame das vozes dos personagem que a habitam; e, ao identificar como o discurso narrativo desloca as imagens estereotipadas e preconcebidas de um espaço social periférico ao representá-lo desde uma perspectiva ambivalente e humanizadora. Se por um lado o romance acena para uma realidade parcial e imaginária e, portanto, ficcional, por outro sinaliza para um contexto sócio histórico que não pode ser atrelado a uma categoria de mera ficção, considera-se as várias personagens apresentadas no romance Becos da Memória as quais apelam ao leitor pela veracidade de seu discurso relacionado a um tipo de violência observada no cotidiano das grandes cidades, especialmente à realidade favelada, que então frustram a classificação do texto como ficção devido à sua probabilidade factual. Este texto apresenta a abordagem de algumas das principais concepções de memória, espaço narrativo, mulher negra. Isso com base na memória narrada pelos personagens do romance e suas manifestações na literatura e na cultura, entendendo a memória como registro do vivido, preservação e resgate de imagens ou reconstrução da experiência humana. Apresenta-se um panorama sobre o surgimento da favela a qual é observada enquanto precária alternativa de habitação, consequente do plano de excluir a população negra dos espaços urbanos e sociais. Foi apresentado uma revisão de leitura sobre aportes teóricos referentes aos estudos a partir de alguns autores, como Pollak (1992), Brandão (2013), Le Goff (1994), dentre outros que respaldam a discussão sobre o tema proposto.