Modernidade a ferro na contística trem das almas: leituras pós-colonialistas da figura do "índio"

Abstract

Esta pesquisa sonda a figuração moderna do "índio", inaugurada em 1492 com Cristóvão Colombo, figuração essa não de todo superada em nossos dias. Servir-nos-emos para esse exame do aporte bibliográfico oferecido pela literatura através das micronarrativas da contística Trem das Almas (2020), de Simon Oliveira dos Santos, que ficcionalizam a presença dos povos originais no entorno da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, próximo à antiga estação de Vila Murtinho, às voltas com os ciclos da borracha e com o iniciante processo de colonização da região noroeste do Brasil. A tese pós-colonialista, encabeçada, principalmente, por Frantz Fanon e Enrique Dussel, nos servirá como baliza na abordagem sobre o espaço originalmente indígena em sua a-historicidade, na incursão teórica sobre a relação entre o "índio" e a literatura e no viés interpretativo e cultural com que lidamos com a leitura dos contos. As falácias desenvolvimentistas da modernidade põem-se à mostra na própria atmosfera ficcional apresentada pelas narrativas, onde o periférico, o subalterno e o invisibilizado crescem a olhos vistos, principalmente no que toca às primeiras vítimas históricas, ou seja, aos "índios". Encerramos a pesquisa ladeados numa autocrítica em relação aos nossos próprios olhos diante da figura que fazemos do "índio" hoje. Em todo caso, não deixamos de sonhar com as possíveis mudanças de perspectivas, dentro do arcabouço do que Dussel (2016) chamou de transmodernidade.