As muitas vozes de Ferreira Gullar e seus princípios construtivos

Abstract

Este trabalho analisa o livro Muitas vozes (2002), de Ferreira Gullar, visando desvelar seus traços expressivos e seu motivo principal, isto é, as vozes que ele consagra como matéria poética e o modo como a metalinguagem atua nesse processo. Parte-se das reflexões de Bakhtin (2003), Meschonnic (2006) e de Eliot (1991) sobre vozes e das conclusões bakhtinianas sobre polifonia (2015) para analisar como o poeta modula as vozes e as polifonias na construção dos textos. Quanto ao estudo da metalinguagem, temos, como aporte, as contribuições de Jakobson (2003), entre outros, com o objetivo de compreender como Gullar operacionaliza o processo metalinguístico para a criação de sua poética. A dissertação se estrutura em dois capítulos: no primeiro, intitulado A poética de Ferreira Gullar, analisa-se a relação entre poesia e polifonia e como ocorre o recolhimento das vozes por meio da audição, além de investigar o processo de decantação das vozes ressignificadas pelo poeta. No segundo capítulo, Metalinguagem e identidade poética, busca-se compreender os diversos processos metalinguísticos utilizados ora na construção de uma poesia críticoreflexiva, ora no resgate da poesia (quando Gullar reflete sobre o papel da poesia e do poeta na história e tenta recuperar a função autoral), ora no esforço da construção de uma identidade poética. Nesse sentido, conclui-se que é por meio da construção baseada na polifonia e na conceção de poesia como constructo que a poesia e o poeta ganham vida como objeto do próprio livro.