O sujeito migrante e as marcas da pós-colonialidade na obra Belém do Grão-Pará, de Dalcídio Jurandir

Abstract

O presente estudo analisa a constituição identitária da personagem Alfredo na obra Belém do Grão-Pará, de Dalcídio Jurandir (2016), que pode ser lida sob a ótica da categoria de sujeito migrante, uma vez que Alfredo migra do campo para realizar o sonho de estudar na capital, evidenciando conflitos relacionados à miscigenação e anseios de conhecimento não alcançados em seu contexto ribeirinho. Esse pré-adolescente do interior, que não aceita seus traços originais, segue em busca da construção de sua identidade em uma capital que tanto o encanta quanto o decepciona. Para esta pesquisa qualitativa, de caráter analítico-bibliográfico, foram analisados trechos da obra de Dalcídio Jurandir em diálogo com as teorias da heterogeneidade e do sujeito migrante, definidas por Antonio Cornejo Polar (2000), considerando-se também estudos sobre identidade, na perspectiva do estudioso e filósofo Stuart Hall (2019). Além disso, apresenta-se uma análise crítica do romance, passando pelas teorias pós-coloniais/decoloniais estudadas por Frantz Fanon (1968), Edward W. Said (2007), Enrique Dussel (1993), Homi K. Bhabha (2019), Walter Mignolo (2020), Albert Memmi (2007), Aníbal Quijano (2009) entre outros, e estudiosos que abordam o tema da Amazônia, como Márcio Souza (2019) e João Paes Loureiro (2015). Apresenta-se, ainda, como se configura a identidade migrante da personagem Alfredo e o processo de mudança interna que o leva a reconhecer sua descendência e a se identificar com seus pares, os sujeitos excluídos da sociedade durante o período de sua estada em Belém. A relevância do trabalho se concentra na forma como a obra revela ficcionalmente as tensões discursivas que atravessam a natureza do sujeito amazônico, situado na fronteira de diferentes universos culturais, o que permite observar a emergência de um contradiscurso relacionado aos estudos pós-coloniais.