A mulher aluna da EJA: caminhos e perspectivas no retorno à escola

Abstract

A exclusão das mulheres dos espaços educacionais foi por muito tempo uma realidade, sendo elas, quase que exclusivamente, criadas para os cuidados domésticos, no intuito de se tornarem boa mãe e boa esposa. Deste modo, o acesso à cultura e a escolarização era considerado desnecessário. Realidade essa que perdurou por longos períodos da história. A preocupação quanto à educação escolar das mulheres apenas ganhou ênfase nos anos 1990, período em que políticas públicas começam a ser pensadas, principalmente no que tange à Educação de Jovens e Adultos (EJA), visando o reparo de uma dívida social. O presente trabalho teve por objetivos apresentar o perfil das mulheres ingressas na EJA e entender o porquê de não terem estudado no ensino regular, além de mostrar os motivos pelos quais retornaram à escola na vida adulta. Para isso, realizamos uma pesquisa de campo de caráter exploratória do tipo qualitativa, com perguntas semiestruturadas realizadas com 12 mulheres ingressas em uma instituição de ensino voltada para a EJA, na cidade de Vilhena-RO. Todas as participantes, assim como o nome da instituição onde estudam terão seus nomes reservados por questão de ética. Os referenciais teóricos abordados neste trabalho estão apoiados em autores que discutem sobre a mulher, a educação e a EJA. Dentre os principais estão: Louro (1997; 2017), Freire (1987; 1992; 2000), Gadotti e Romão (2011), Lei de Diretrizes e Bases da Educação ( 1996). Como resultado identificamos serem mulheres com faixa etária dos 30 aos 70 anos, todas com filhos, em sua maioria casadas, viúvas ou divorciadas, provenientes de outros estados e regiões, viveram durante a infância em espaços rurais. Se deslocaram de suas cidades de origem em busca de novas oportunidades ou acompanhando o parceiro. Foram impossibilitadas de estudarem durante a infância e a juventude devido à necessidade de exercer trabalhos na roça e afazeres domésticos, somando a isso, outras ainda não frequentaram a escola devido às proibições do pai e marido. Quanto aos motivos do retorno, em sua maioria, apresentaram ter a busca pelo letramento como uma realização pessoal, necessário para conquistarem sua independência e liberdade, considerando também, poder realizar sonhos existentes, como tirar a habilitação e fazer cursos. Diante dos dados obtidos, compreendemos neste trabalho, a necessidade de se dar voz às mulheres que ocupam a EJA, facilitando sua permanência e acesso nessa modalidade, assegurando a elas o direito que por muito tempo lhes foi negado.