PASAB ĞAB ÃA: saberes e fazeres matemáticos do povo Paiter Suruí presentes na coleta do babaçu e no processamento artesanal de seus subprodutos

Abstract

A presente pesquisa tem como objetivo investigar os saberes e fazeres matemáticos do povo Paiter Suruí presentes na coleta do babaçu e no processamento artesanal dos seus subprodutos, e as contribuições dos estudos desta natureza para a formação de docentes indígenas que ensinam matemática. As questões que orientaram o trabalho foram: quais saberes e fazeres matemáticos do povo Paiter Suruí estão presentes na coleta do babaçu e no processamento artesanal de seus subprodutos? Em que medida a realização de pesquisas nesta área pode contribuir para a formação de professores indígenas que ensinam matemática? A temática foi escolhida por se tratar de uma atividade ancestral, sendo relevante para promover o resgate do uso do babaçu, colocando em destaque a cultura tradicional, a sustentabilidade, a coleta do babaçu e o processamento artesanal dos subprodutos. Além disso, dá ênfase aos saberes e fazeres matemáticos próprios do povo Paiter Suruí, ressignificando as práticas educativas tradicionais e rememorando os saberes e fazeres da tradição e os pro cessos de mudanças ocorridas pós-contato. A investigação foi realizada na aldeia Iratana, localizada na linha 10, km 60, na Terra Indígena Sete de Setembro, município de Cacoal, Rondônia. Os participantes diretos da pesquisa foram 11 moradores da aldeia, maiores de 18 anos, que tiverem disponibilidade e interesse em participar, além de três professores indígenas que ensinam matemática e atuam em escolas indígenas. Para tanto, observamos, ouvimos e acompanhamos a coleta do babaçu e o processamento artesanal dos subprodutos, identificando saberes e fazeres matemáticos Paiter Suruí presentes nestas atividades. Posteriormente, refletimos, juntamente com os professores indígenas participantes da pesquisa, sobre as potencialidades do estudo realizado para a formação de professores indígenas que ensinam matemática. A pesquisa teve abordagem qualitativa do tipo autoetnográfica. A principal base teórica utilizada é formada por autores e autoras da área da Educação Matemática, mais especificamente da Etnomatemática, com ênfase nos que discutem os saberes e fazeres matemáticos dos povos indígenas e seus entrelaçamentos com a formação de professores, tais como: D’Ambrosio (1985; 2002; 2011), Leite (2014), Suruí e Leite (2018), Costa e Oliveira (2019) e Cinta Larga e Martini (2021). Como principais resultados, apuramos a presença de saberes matemáticos específicos do povo Paiter Suruí no processo de coleta e processamento artesanal do babaçu relacionados à contagem, medidas, marcadores de tempo e qualificadores geométricos. Os professores participantes evidenciaram a importância dos estudos relacionados à etnomatemática realizados pelos próprios indígenas, tanto para a própria formação dos pesquisadores quanto para o fortalecimento da cultura local. Esperamos que os resultados contribuam para revitalizar a cultura tradicional do povo Paiter Suruí, além de aperfeiçoar a formação de professores indígenas que ensinam matemática.